domingo, 3 de outubro de 2010

Prisioneiros do mundo interno

Procuras saber quem sou?
Tentas encontrar para lá de um rosto, traços de uma vida, pedaços que possas alastrar. Vasculhas incessantemente e trocas conversas com o outro ao teu lado.
Queres saber quem eu sou? Que importa quem sou?
Porque escrevo e porque o faço?
Tu quem és?...Não respondas um nome, um cunho pelo qual te apresentas. Quem és?...Não sabes!
Encontras-te tantas vezes nas minhas palavras mas focas o olhar em descobertas vagas.
Não poderás saber quem sou, o que sou nunca será o que encontras.
E tu quem és?...Não sabes, jamais te procuras para não correres o risco de te encontrar, não suportas olhar o espelho de frente com a silhueta despida e alma aberta na claridade.
Não encaras o passado e do presente foges.
Outorgas culpas e julgas culpados na vã esperança de te libertares…
As grades estão cravas e inquebráveis no centro de tudo…
É a solidão, respondes, a solidão! Essa é a tua construção do paralelo exacto em que te focas na dispersão do “eu” em intima comunhão com a confusa mente que esquece…
Movimentas-te com sorrisos e deixas cair dos lábios conversas supérfluas, falas cada vez mais e entendes de muitos e variados assuntos. Se não encontras ninguém usas o telemóvel, mandas uma mensagem, assim a mente está ocupada.
Dizes saber dos distúrbios dos alheios e gritas que queres dar-lhes a mão, na mão esquerda tens sempre um lenço para aparar as lágrimas, a mais nobre acção de solidariedade…
Mas e tu? Quem és tu?
Onde te perdes-te?
Não te encontras mas buscas em mim a solução.
Encara de frente os teus medos, limpa o teu interno sótão, abre os livros antigos com os projectos futuros, deixa cair o nome que te encobre o rosto. Vive a tua solidão deixa a multidão em espera (ela espera sempre no mesmo lugar), agradece a vida a Deus, sente a beleza das flores,”olha os lírios do campo” e os pássaros que das sementes se enfartam. Agarra o tronco de uma árvore que vive há séculos com as raízes sólidas numa terra fértil, abraça-a sente a sua força motivadora…
Não grites liberdade sem quebrares as correntes invisíveis que emolduram a tua verdadeira essência.
E eu quem sou? Sou um “eu” tal como tu e tu um “eu” à imagem de todos!


Ana Coelho

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