sábado, 10 de outubro de 2009

Canto calmo e sereno- Dueto


[foto de José António Antunes]

Voltei à praia onde nasci,
com os pés beijei a areia,
dormi no embalar das ondas
bebi do sal das águas
naufraguei penitência
esconderijo sem apoteose
miragem de corais esquecidos
embrulhados nos búzios
encostados ao ouvido.

Devolvi-me
no âmago de uma concha,
fui eu e tu
convertida no exótico sonho
estilizada pela luz esguia.

Ergui um manto
despido das rochas
bendito sofrimento
num canto calmo e sereno
de todas as horas que vi o sol nascer.
... e no entanto,
volvi a mim e a mim volvi,
estranheza funda que me verga
e no imo do que faço
és tu a vida que esperei
enfim, e consegui...
na mesma praia em que nasci.

Todavia,
regateio a vida
no vasto salgado
que adoça as praias surdas
feliz de a tocar.

Dueto de José António Antunes e Ana Coelho

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